"Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo." Foucault

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"Alquimia de ventilador, poesia de liquidificador..."

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os que Lutam



"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;

Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;

Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;

Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."

Bertold Brecht
(sigo roubando palavras... mas só aquelas que vibram em mim...)

sábado, 18 de julho de 2009

Auto-deglutição



Tenho ânsias de escrever
palavras me reviram o estômago
me sobem pelo esôfago
me travam a garganta
embriagam minha cabeça
mas não consigo externá-las
e novamente engulo-as
talvez pela milésima segunda vez.
Elas me queimam por dentro,
se confundem com as minhas entranhas,
me fazendo cócegas,
me provocando dores.
Mas o que eu posso fazer com elas?!?!
São elas que fazem o que bem entendem de mim...
Não consigo dominá-las,
me escapam aos borbotões,
e em vão, me esforço em captá-las
em compreende-las,
mas como, se elas são feitas de matéria misteriosa,
insuspeita e etérea,
e eu tão vácuo, tão vã, tão vil,
simples tentativa servil...
Me ergo pra elas buscando um que de mistério e abstração,
talvez um traço de misericórdia
inspiração divina, quiçá possessões poéticas
áurea de pomba-gira...
mas nem assim,
e novamente tropeço em mim mesma,
rolando no chão buscando algo que eu não tinha,
mas que sempre me perturba e comove.
Elas continuam atacando meu fígado,
não me permitem esquece-las em momento algum
e seguem em nossa sina, nossa senda
sempre me aturdindo,
me provocando,
brincando com meu ser...
mas um dia... ah, um dia
ainda vomitarei sílfides e borboletas.
Mas enquanto esse dia não chega,
eu, egoísta
sinto elas em minha língua,
engulo
e guardo-as pra mim.
(Fran)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Todas as Vidas



Vive dentro de mim uma cabocla velha de mau-olhado
Acocorada ao pé do borralho, olhando para o fogo.
Benze quebranto. Bota feitiço... Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro. Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim a lavadeira do rio vermelho.
Seu cheiro gostoso de água e sabão.
Rodilha de pano. Trouxa de roupa, pedra de anil.
Sua coroa verde de São-Caetano.
Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola.
Quitute bem feito. Panela de barro. Taipa de lenha.
Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda. Cumbuco de coco. Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim a mulher do povo. Bem proletária.
Bem linguaruda, desabusada, sem preconceitos,
de casca grossa, de chinelinha e filharada.
Vive dentro de mim a mulher roceira.
Enxerto de terra, trabalhadeira.
Madrugadeira. Analfabeta. Pé no chão.
Bem parideira. Bem criadeira.
Seus doze filhos. Seus vinte netos.
Vive dentro de mim a mulher da vida.
Minha irmãzinha... tão desprezada, tão murmurada...
fingindo alegre seu triste fado.
Todas as Vidas dentro de mim:
Na minha vida – a vida mera das obscuras!
(Cora Coralina)
"Roubo palavras...
mas somente aquelas que encontram eco em minha alma"

sábado, 11 de julho de 2009

Finito x Infinito

























Alguém que eu conheço
tem sede de infinito
mas eu...
ah, eu tenho fome de mortalidade
dos instantes que se vão para sempre,
do humano ser carnal,
do beijo que nunca mais será,
do tempero que a finitude dá a vida...

Mórbido meu gosto? Talvez...
Mórbida é a vida,
e a vida, ah...
é essa a maior das minhas fomes
mas apesar da voracidade,
degusto devagarinho...

Mas tenho que confessar...
junto das minhas fomes mundanas
também mora em mim
uma sede de infinito.
Mas acho que meu infinito
está fechado em um mundo,
mundo este, que não é meu.
(Fran)


O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
__O jardim dos meus versos todo em flor
…A seara dos teus beijos, pão bendito…
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços…

__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.”
(Florbela Espanca)