"Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo." Foucault

Minha foto
"Alquimia de ventilador, poesia de liquidificador..."

domingo, 27 de dezembro de 2009

"É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre. "
Carlos Drummond de Andrade
Um Maravilhoso 2010.

domingo, 20 de dezembro de 2009

acinzentado

Sabor de dia cinza.
Garoa paulista em terras fluminenses,
Um sol tímido se espreguiçando entre as nuvens.
Como pintar o céu se ainda não tenho as tintas?

Movimento



Então, me movo...
e ao me movimentar
sinto as corrente que também me prendem
que também me subjugam.
...
Sou criança de pé no chão,
mas que olha pras nuvens...
...não espero o maná dos céus,
só peço a Deus continuar me dando força,
pra me movimentar... arrebentar meus grilhões.
E um dia moverei o mundo.

sábado, 31 de outubro de 2009

Castelo



Me fiz romântica, na temporalidade de um determinado momento.
Fugaz, construí castelos de cristal e tronos de porcelana para assentar os sentimentos de forma calma e bela.
Coloquei vitrais em todas as janelas, por onde raios de sol criavam uma áurea de sonhos. Contas de vidro eram gotas de orvalho, mas do orvalho das noites de lua nova e serenata.
Mas de repente, como um sopro, uma brisa, uma pedra, um raio... meu castelo estremece, meu vitral se rompe.
Antes rodeada de espectros coloridos, sou golpeada por um raio de sol, inteiro, completo, intenso.
Minha pele queima, arde, se incandesce...
Meu castelo se dissolve em mim, derretendo com meu calor.
Assisto a essa cena surreal, onde as ilusões edificadas em cristal escapam de mim como suor.
Vejo por entre os raios que teimam em me cegar (mas que ao mesmo tempo iluminam o caminho) todas as possibilidades de amar... muito maiores e mais coloridas do que meu opaco castelo de vidro, onde um romantismo insensato, me permitia apenas roçar o superfície de mim mesma.
(Fran)

"Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!"
(Inconstância - Florbela Espanca)

sábado, 10 de outubro de 2009

Céu negro

Gripada, entediada, carente, nostálgica, melancólica...
assim me encontrava uma noite, ouvindo Zeca Baleiro.
Doída por sentimentos passados,
mergulhada até os olhos de antigas declarações,
me questiono madrugada a dentro:
“Pra onde vão desejos, palavras sem razão?”
Vislumbro um céu negro.
O contraste que permite o maior brilho das estrelas.


"Versos ao vento vão..."

domingo, 4 de outubro de 2009

Mafalda












Amo as tirinhas da Mafalda. Partilho algumas com vocês. Boa degustação.




sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Domínio Inventivo




Ainda que neguemos veementemente,

privilegiamos a linearidade.

Somos reféns de nós mesmos,

compreendemos o mundo

pelo binário empobrecedor,

reduzindo tudo ao jogo:causa e efeito.

Mas e o que é descontínuo?

Aquilo que acontece?

Inventamos as conexões.

Encontramos,

na imaginação,

os elos perdidos...

Tudo isso para dominarmos...

É a vontade de estar no controle.

Assumamos nossa valiosa pequenez!

Vivamos o acontecimento,

com nexo ou não.

Isso é que se faz enriquecedor.

Multipliquemos as condições de possibilidades!


(palavras/presentes de um amigo/irmão. Obrigada meu bem!)

sábado, 19 de setembro de 2009

Tempus Fugit

Imagem: Tatoo do Rafa


Num devaneio egocêntrico
desejei travar o tempo,
manuseá-lo ao meu bel prazer.
Afinal que humano ser, um dia não quis ser
todo poderoso senhor do tempo,
transformar a história num gigantesco quebra cabeça,
montado e remontado eternamente...


Sentir milhares de vezes o gosto dos bons momentos,
torná-los espectros de eternidade,
evitar as dores, impedir injustiças,
concertar (e consertar) grandes amores...
Imperar no tempo e espaço,
uma déspota romântica e idealista
fazer tudo como eu queria...
como eu quero...


Mas de que me adianta esses quereres
(que não são os quereres cantados por Caetano)
Se ao final continuo sob o jugo
de um Cronos sadomasoquista?
(Fran)


"Tempo, Tempo, Tempo, Tempo..."

domingo, 13 de setembro de 2009

Tambor



Som...
sinto o som
a batida me sacudindo da cabeça aos pés
sacudindo, batendo os pés,
cabeça rodando
sangue correndo
sonhos correndo
lembranças correndo
histórias se entrelaçando
no segundo de uma batida
tum... ... ...
uma vida, uma era, um povo.
Me transporto pra outros lugares
antigos e novos
serenos e monstruosos
tudo dentro de mim,
dos meu movimentos
tudo saindo de mim
me sacudindo...
tum... tum... tum...
só a música, o que é real
mas principalmente o que transcende.
(Fran)

sábado, 5 de setembro de 2009

Minha Pretensão





A pretensão de escrever
de ser lido
de ser percebido
de transcender
de absorver
de me esconder
e aparecer,
me exibindo
por meio de uma válvula de escape
meio lírica, meio herética
uma poética forçada, forçosa
insípida e inodora pra alguém
mas extremamente dolorosa
pra mim, assim, parir palavras
que são insuficientes e toscas
grunhidos de sentimentos
que se pretendem poesias.


(Fran)

sábado, 15 de agosto de 2009

Domesticando monstros



Tenho uma dor no peito
que não me permite nomeá-la,
uma angústia que se torna permanente,
um soco na boca do estômago
que me obriga a acordar
só não sei o por que acordar,
ou aonde acordar
mas essa dor sabe e me segue
e me mantem assim:
nem totalmente feliz,
nem totalmente triste.
Tenho algo aqui dentro
um algo assim,
meio agridoce ao paladar,
um suor frio que me lembra estar viva,
é um algo mais que eu não encontro
mas que pode estar aqui
só que não me permite encontrar...
Talvez isso seja a vida,
um eterno vir-a-ser,
uma ausência tão presente de mim mesma
que me leva a caminhar, e a buscar...
talvez encontre por aí
no meu reflexo nos teus olhos castanhos,
ou talvez seus olhos só me façam sorrir,
e então novamente a dor me faz seguir,
vagando, divagando, meio devagar também.
Sigo sentindo-a, dominando-a,
acho que até alimento esse monstro marinho que mora no oceano do meu peito
quem sabe é uma sereia, que encanta marinheiros?
Talvez... mas ela, ou ele, ou seja lá o que for
permanece aqui, se acomodando
sempre incomodando
afinal, ele é o que mais legitimo eu tenho.

(Fran)

domingo, 9 de agosto de 2009

Fome




.:algumas imagens falam mais que um milhão de palavras:.

sábado, 8 de agosto de 2009

Provocações da Solidão



A beleza triste da poesia me comove,
a batida das canções me alucinam,
a força das palavras de protesto me movem,
musiquinhas melosas me fazem pensar em amor.
Lugares fechados me lembram ninhos,
lugares abertos me inspiram o infinito.
Solidão me conforta e tortura
pois, enfim, mas não o fim,
encontro a mim e a complexidade de ser.
Não é sentimento de superioridade
(ou de inferioridade, dependendo do ângulo),
é apenas a certeza de que viver
exige muito mais do que a capacidade de respirar.
(Fran)

sábado, 1 de agosto de 2009

Saudades e Ausências



Sentia saudades
de tantas coisas que nem sei contar
lembranças se misturavam
sensações passadas, enterradas
submersas e imersas
vinham à tona sem serem chamadas
sem serem queridas
(mas são as mais queridas).
Ligo o computador,
releio algo de Drummond.
Abro um sorriso com sabor de lágrimas.
Sinto a presença da ausência como se fosse água.

(Fran)



“Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência,

essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim”

(Drummond)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os que Lutam



"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;

Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;

Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;

Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."

Bertold Brecht
(sigo roubando palavras... mas só aquelas que vibram em mim...)

sábado, 18 de julho de 2009

Auto-deglutição



Tenho ânsias de escrever
palavras me reviram o estômago
me sobem pelo esôfago
me travam a garganta
embriagam minha cabeça
mas não consigo externá-las
e novamente engulo-as
talvez pela milésima segunda vez.
Elas me queimam por dentro,
se confundem com as minhas entranhas,
me fazendo cócegas,
me provocando dores.
Mas o que eu posso fazer com elas?!?!
São elas que fazem o que bem entendem de mim...
Não consigo dominá-las,
me escapam aos borbotões,
e em vão, me esforço em captá-las
em compreende-las,
mas como, se elas são feitas de matéria misteriosa,
insuspeita e etérea,
e eu tão vácuo, tão vã, tão vil,
simples tentativa servil...
Me ergo pra elas buscando um que de mistério e abstração,
talvez um traço de misericórdia
inspiração divina, quiçá possessões poéticas
áurea de pomba-gira...
mas nem assim,
e novamente tropeço em mim mesma,
rolando no chão buscando algo que eu não tinha,
mas que sempre me perturba e comove.
Elas continuam atacando meu fígado,
não me permitem esquece-las em momento algum
e seguem em nossa sina, nossa senda
sempre me aturdindo,
me provocando,
brincando com meu ser...
mas um dia... ah, um dia
ainda vomitarei sílfides e borboletas.
Mas enquanto esse dia não chega,
eu, egoísta
sinto elas em minha língua,
engulo
e guardo-as pra mim.
(Fran)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Todas as Vidas



Vive dentro de mim uma cabocla velha de mau-olhado
Acocorada ao pé do borralho, olhando para o fogo.
Benze quebranto. Bota feitiço... Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro. Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim a lavadeira do rio vermelho.
Seu cheiro gostoso de água e sabão.
Rodilha de pano. Trouxa de roupa, pedra de anil.
Sua coroa verde de São-Caetano.
Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola.
Quitute bem feito. Panela de barro. Taipa de lenha.
Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda. Cumbuco de coco. Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim a mulher do povo. Bem proletária.
Bem linguaruda, desabusada, sem preconceitos,
de casca grossa, de chinelinha e filharada.
Vive dentro de mim a mulher roceira.
Enxerto de terra, trabalhadeira.
Madrugadeira. Analfabeta. Pé no chão.
Bem parideira. Bem criadeira.
Seus doze filhos. Seus vinte netos.
Vive dentro de mim a mulher da vida.
Minha irmãzinha... tão desprezada, tão murmurada...
fingindo alegre seu triste fado.
Todas as Vidas dentro de mim:
Na minha vida – a vida mera das obscuras!
(Cora Coralina)
"Roubo palavras...
mas somente aquelas que encontram eco em minha alma"

sábado, 11 de julho de 2009

Finito x Infinito

























Alguém que eu conheço
tem sede de infinito
mas eu...
ah, eu tenho fome de mortalidade
dos instantes que se vão para sempre,
do humano ser carnal,
do beijo que nunca mais será,
do tempero que a finitude dá a vida...

Mórbido meu gosto? Talvez...
Mórbida é a vida,
e a vida, ah...
é essa a maior das minhas fomes
mas apesar da voracidade,
degusto devagarinho...

Mas tenho que confessar...
junto das minhas fomes mundanas
também mora em mim
uma sede de infinito.
Mas acho que meu infinito
está fechado em um mundo,
mundo este, que não é meu.
(Fran)


O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
__O jardim dos meus versos todo em flor
…A seara dos teus beijos, pão bendito…
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços…

__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.”
(Florbela Espanca)