"Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo." Foucault

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"Alquimia de ventilador, poesia de liquidificador..."

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Receita de Ano Novo - Drummond

Para você ganhar belíssimo Ano Novo


cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido talvez ou sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

novo

até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?)



Não precisa

fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido

pelas besteiras consumadas

nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.



Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade

sábado, 11 de dezembro de 2010

Humano ou Direito?


Direitos humanos,
Só para humanos direitos?
Mas quem diz direito?
Quem escreve direito?
Quem anda direito?
Quem fala direito?
Quem fala de direitos?
Quem fala aos direitos?
O que é direito?
Quem não é direito?
É humano ou é direito?
Desumano não ter direitos?
Onde estão os direitos?
Onde estão os não direitos?
Quem diz que é direito?
Quem procura o que é direito?
Pra quem são os direitos?
Onde estão os direitos?
Pra quem são os direitos?
Onde estão os direitos?


Como ser direito
Se não tenho direito
A ter direitos?

Enquanto o direito não for humano,
Meu coração vermelho e desavergonhadamente humano
Batuca violentamente à esquerda.

..::Fran::..

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pseudo-auto-manual de (des)instrução

Contraditória sempre,
Monótona as vezes.
Feminista sempre,
Romântica quase todas as vezes.

Utópica sempre,
Pés no chão, nem sempre.
MPB e rock sempre,
Suor e samba as vezes.

Chocolate sempre.
Se for Diamante Negro é constância.
Livros todas as vezes,
DVDs nem sempre.
Me beije sempre,
E abrace mais ainda.

Dialeticamente me contraponha,
Mas concorde ao menos uma vez.
Movimento sempre,
De contestação, mudança, revolução.

Amor sempre,
Sempre que for preciso.
Desejo sempre,
Sempre que for bem-vindo.
Respeito sempre,
E sempre que não houver respeito,
Contestação, direito e justiça.
Vida sempre,
Com dignidade, conquistas e prazer.

Relativa sempre,
Historicidade permanente.
Culturalmente construída.
Uma mulher a se fazer.

.::Fran::.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

um golinho de Amor descrito por Drummond

"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar"

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amo

tantas palavras foram utilizadas pra descrever o amor
alguns poetas se aproximam...
mas minhas simples palavras não possuem essa amplitude,
então faço a opção por sentir.

Amo.
E essas três letras preenchem todo o meu ser.

Fran

quinta-feira, 28 de outubro de 2010


 Anjo que se recria em asas e me faz voar.
Passos humanos. Toques que são cânticos à vida.
Na pele reflete constelações,
Nos olhos um pôr do sol no mar.
Com os pés na terra me apresenta novos mundos.
Contigo minha alma conhece o sol.
No céu da tua boca conheço o gosto do paraíso.

..::Fran::..

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O anjo

Um anjo caiu no meu colo.
De asa quebrada e coração partido.
Mas mesmo assim ele sorriu pra mim.

E ao sorrir, meu coração se iluminou
minha alma incandesceu.
E meus olhos surpresos viram minha pele arrepiar.

Quero curar teu coração.
Cuidar de tuas asas.
Vê-lo voar mais alto que nunca...
Mas sempre retornando à mim...
seu porto seguro.

O avesso das árvores (ou o pseudo-verso das árvores que voam)

Caem os frutos das árvores que voam??Elas fazem a polinização das aves.
Elas que polinizam os ovos que se tornam as aves.
E mais uma vez elas aparecem aos bandos, para realizarem a tarefa designada pela natureza... levam e trazem a vida....
As borboletas são as sementes que saem voando pra outros ares, pra formar novas árvores voadoras.

A realidade decadente não admite isso, e quer prender as árvores.
A floresta de pássaros está em extinção....
Muito oxigênio e pouca poesia...
as borboletas não agüentam voar, as asas estão atrofiadas por falta de gentileza e gargalhada,
e as árvores vão secando, se retorcendo, tentando se libertar.
Muitos dizem:
“isso é um absurdo: árvores não voam!”
Mas borboletas voam!
Sonhos também voam!
Sorrisos também voam!
E desejos irrigam sentimentos!
E a vontade fecunda a vida onde  sussurros inundam rios.

Mas, a razão constrói barreiras, provoca enchentes.... é um desastre!
e a realidade seca os rios, as vontades...
As árvores deixam de voar,
os pássaros voltam a cantar religiosamente a melodia decadente

(Mas as vontades, por serem vontades, não se sentem a vontade de deixar de ser vontade)

Acordo.... aceito o acordo...... o mundo me aceita!
Estamos todos felizes!!!
Clama o coro dos contentes.
Mas inseguros.... um dia... as árvores voltam a voar.
A calma cala a inquietude da alma que se contorce.
Mas sou normal. Estou de acordo.
Aceito o acordo para dormir para sempre.
Mas ainda assim as árvores voltam a voar.
Sim claro.... elas sempre voltam....
Mas ainda assim, as árvores voltam a sonhar.
Quem sabe eu também?
E eu encontro no sono tranquilo...... a paz inquieta que me foi roubada.
E o silencio ensurdecedor me entrega aos braços de Morpheus.

Mas quando as cachoeiras passam a chover no universo, fertilizando todo o céu...
Cai a conexão do msn!
Sem net, sem msn, sem computador...
Olho pela janela e vejo as árvores voando no meu quintal.
Fim? Não, apenas o começo.
As árvores trazem sementes.
Que voem as borboletas.


(pseudo-poesia escrita a quatro mãos, duas cabeças descabeladas, mil e uma indagações, dois msn e uma amizade desmedida. Aqui, a amizade que é a verdadeira poesia.)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sonho

"O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre."
Adélia Prado

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Anti-Mergulho

A paixão é como trafegar na beira do abismo
é excitante sentir o desejo, o desafio
sentir o gosto ímpar...
Até que, de assalto, me toma a razão;
faz nascer a dúvida,
a temível insegurança.
É o pobre conflito entre razão e emoção!
Entrego-me aos gladiadores,
Encontro o prazer no gosto inseguro do risco do desejo.

(Palavras emprestadas por um amigo-irmão verdadeiramente apaixonado e apaixonante, consequentemente irracional e surreal)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Uma Pipa

Voou alto
a pipa perdida
enfim encontrou a liberdade
após o combate
quando quase era tarde
se perdeu de seu criador
mas ganhou o vento inteiro
a imensidão do céu azul
e a possibilidade de pousar
Em qualquer de suas mãos

Fran


(Poesia escrita para alguém e ilustrada via msn por esse alguém, mas fui eu que fiz o chão, se não as árvores iriam sair voando junto com a pipa, e pelo menos nesse texto, árvores não voam)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Guaraná e outros líquidos

Derreto meus pensamentos,



e com essa sopa caótica preencho vãos,



valas, bares e cidades vazias.



Congelo o tempo em formas disformes



e conforme o tom do momento,



acrescento uma bebida mais forte,



ou dois litros de guaraná.



Vapores de emoções passadas,



remoídas e recalcadas



inebriam o ambiente



e entorpecem alguns sentidos,



mesmo não tendo sentido algum



se sentir emocionado ao inspirar um dramalhão



ou um bang bang de far west.



Degusto idéias e



antropofagicamente me aproprio de você,



iguaria ímpar, palatável, um pouco insossa,



mas nem por isso menos interessante.



Uma queimação no estômago me faz lembrar meus limites,



mas também minhas fomes e desejos.



E nesse instante meus pensamentos preenchem teu ser.



Enquanto o guaraná enche o copo em minha mão.



Essa sede que me atormenta.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

S's e M's

Simplesmente sigo,
Simples senda.
Sentimentos de mansidão.
Sertão em mim,
Ser tão em mim,
em mim,
imensidão.


Fran

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Os ombros suportam o mundo - Drummond


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossege
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação


(...roubo palavras, mas apenas aquelas que fazem minha alma vibrar...)
 

quarta-feira, 14 de julho de 2010

um ônibus, uma possibilidade...

Subo no ônibus.

Vejo pernas compridas que terminavam em tênis de trilha.
- Legal.

Pago a passagem e me encosto na janela, ao lado dele.
- Perfume bom.

Olho disfarçadamente, cabelo desarrumado, barba por fazer...
- hum, gatinho...

Olho para meu all star, sentindo a presença dele ao meu lado.
- Faço o quê?

Olho pra janela, meu ponto chegando, tomo coragem e olho pra ele.
(suspiro)

Ele também me olha, também me observa, mas me dirijo para porta.
- Ele ainda me olha!

Desço do ônibus, paro, me viro e continuo olhando pra ele.
E ele pra mim.

O ônibus arranca, seu olhar se perde na distância.
Caminho.

Será que acredito em amor à primeira vista?
- Sei não...

Mas todo ônibus que eu ando me traz uma nostalgia do que poderia ter sido.

(baseado em fatos reais, acontecidos em meados de março de 2010 )

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Minha Tempestade


Trovões me gritam.
Raios clamam por mim,
Seus clarões me hipnotizam,
E eu, cega e surda para tudo mais,
Mergulho na tempestade de cabeça erguida.
.:Fran:.

domingo, 25 de abril de 2010

toc, toc, toc...




Toc, toc, toc, toc...
não é batida na porta,
é o barulho do salto na calçada.



toc, toc, toc, toc...
reviro a bolsa tiro o celular,
vibrando e gemendo com a musiquinha da moda.



toc, toc, toc, toc...
rio, gargalho, falo alto
o mundo gira em meu umbigo.



Toc, toc, toc, ops!



Tropeço em algo,
trapos a envolver,
jornais ao redor,
odor de sujeira.
“Por que no meio do meu caminho?!?”
Ignoro o ser que um dia foi humano,
Hoje, mera pedra no caminho da correta humanidade.



Toc, toc, toc, toc...



Imagem que diz muito mais do que as minhas palavras...

domingo, 11 de abril de 2010

Sereno

A pálpebra pesa.
O sereno machuca.
Mas a fogueira ainda queima,
Apesar das próprias cinzas.
Se reinventa, fênix inconsolada,
Galvanizada e marmorizada,
Na pele e na alma daquele que caminha.

Mas o sereno ainda cai.
A pálpebra mais uma vez se fecha.
Mas apesar dos esforços,
O mundo ainda está lá
Tão fora de si,
Tão dentro de mim...

Mas o sereno desanima.
A tempestade se aproxima.
E a pálpebra trêmula,
Arranha minha retina.
Mas ainda assim vejo,
A tempestade que se aproxima.
Mas ainda assim a fogueira arde,
Apesar de suas cinzas.
Mas ainda assim ele caminha,
Apesar da minha vida.

.fran.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Sobre Meninos e Nuvens



Num pátio azul
Nuvens brincam de se reinventar
Se transformam
Mudam a forma,
talvez a textura,
quem sabe a densidade.

Uma baila feito um pássaro
Outra se arrasta como um dinossauro
Outras se sucedem como ondas de um mar calmo
E ainda como ondas do mar,
se chocam e choram a chuva.

Mas aquele menino mira o céu
E com espanto descobre os segredos das nuvens
Que brincam de vir a ser o ser que querem ser
Por ter apenas a incompletude de si...

E o menino se percebe sem mundo ter,
Inquieto por não ter o que...
Sem ser pássaro, nuvem ou água,
Sonha em também poder se inventar,
transmutar a realidade fria,
e mesmo descalço com o pé no chão,
no chão de um mundo em que ele simplesmente possa ser...
e assim tomar impulso e voar
Mais alto que as nuvens, suas guias.



Roubando palavras:

“Digo adeus a ilusão
mas não ao mundo.
Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação,
da tortura,
do terror,
retiramos algo
e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira.”
Ferreira Gullar

sexta-feira, 12 de março de 2010

Marketing pessoal



Minha calça define meu corpo e meu caráter
Minha bolsa e sua etiqueta confirmam minha existência
Meu sapato, subsídio da minha vida
O que eu sou é marca aberta, visível
out-door ambulante e curvilíneo.
Nada tenho a esconder, sou uma embalagem.
(e ainda pago para assim ser)



.:Fran:.

domingo, 7 de março de 2010

Meu encaixe




Meu encaixe é do lado de fora,
de fora dessa sociedade que exclui e discrimina,
de fora das convenções de relacionamento,
de forado padrão homo-heterossexual.
É também de fora, ou de longe,
da cristã dicotomização: bem x mal.
Estou ainda onde todos esperam me encontrar:
o rapaz exemplar!
E tod@s que querem me ver encaixado,
ainda não perceberam meu encaixe!

(versos de um amigo-irmão-companheiro de viagens filosóficas)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pseudo-Serial Killer

Acordei meio serial killer.
Com ajuda de um punhal feri a madrugada,
Sangrei o sol entre as nuvens,
as estrelas ainda como cúmplices,
piscaram pela última vez em consentimento.

Assassinei a madrugada insone,
amante-filha de Morpheus.
A cínica acolhedora,
a propor sonhos e pesadelos,
conheceu o fim pelas minhas mãos.

Mas que assassino fajuto sou,
cuja a vítima retorna para me assombrar,
me obrigando a cometer o rito,
de novo e de novo,
toda a vez em que abro os olhos.

...
(sono)
...

Na próxima vida volto Serial Kisser,
Beijando o mundo ao romper do dia.

(Fran)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Beijo e Fim

Cheiro de canela
novelesco romance, saborosa paixão?
- hum... sei não...

Um “que” de Jorge Amado e sua Gabriela
Mas nada muito dramático.
Na verdade drama algum.
Nada de Julieta e Tristão,
Ou Isolda e Romeu.
Só um lance assim
meio despretensioso
sem muitos alardes
O beijo e o combate, sorrisos e amizade.
The End. Fim.
Nem todo amor precisa de final feliz.