
Me fiz romântica, na temporalidade de um determinado momento.
Fugaz, construí castelos de cristal e tronos de porcelana para assentar os sentimentos de forma calma e bela.
Coloquei vitrais em todas as janelas, por onde raios de sol criavam uma áurea de sonhos. Contas de vidro eram gotas de orvalho, mas do orvalho das noites de lua nova e serenata.
Mas de repente, como um sopro, uma brisa, uma pedra, um raio... meu castelo estremece, meu vitral se rompe.
Antes rodeada de espectros coloridos, sou golpeada por um raio de sol, inteiro, completo, intenso.
Minha pele queima, arde, se incandesce...
Meu castelo se dissolve em mim, derretendo com meu calor.
Assisto a essa cena surreal, onde as ilusões edificadas em cristal escapam de mim como suor.
Vejo por entre os raios que teimam em me cegar (mas que ao mesmo tempo iluminam o caminho) todas as possibilidades de amar... muito maiores e mais coloridas do que meu opaco castelo de vidro, onde um romantismo insensato, me permitia apenas roçar o superfície de mim mesma.
(Fran)
"Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!"
(Inconstância - Florbela Espanca)